Política educacional e resultados: (quase) tudo está na implementação
1 de julho, 2025
Maio de 2025 – por Carolina Rivas e David Evans*
Colocar as políticas educacionais corretas em prática já é difícil o bastante. Mas, na maioria das vezes, é na implementação que elas fracassam. Vamos compartilhar dois achados marcantes. Primeiramente, uma análise de mais de 400 políticas educacionais em mais de 40 sistemas mostrou que menos da metade delas apresentou evidências de progresso ou impacto na última década. Em segundo lugar, uma outra análise apontou que um número ainda menor de políticas demonstrou efeitos positivos. Um dos principais fatores para esse fracasso foi a falta de uma implementação eficaz.
Mesmo intervenções inicialmente bem-sucedidas, muitas vezes, falham quando se busca implementá-las em larga escala. Por exemplo, um país teve sucesso contratando professores temporários que prestavam contas às comunidades locais, mas o programa foi ineficaz ao ser ampliado, principalmente porque forças políticas impediram que ele fosse escalado da mesma forma.
Outro caso que ilustra essa questão trata do desenvolvimento na Primeira Infância. Um programa na Jamaica para estimular o desenvolvimento infantil teve impactos enormes: Depois de 30 anos, as crianças que participaram dessa iniciativa ganhavam 37% mais do que o grupo de controle. Quando esse mesmo programa — que originalmente envolvia apenas 70 crianças — foi ampliado para mais de 700 crianças na Colômbia e quase 70 mil no Peru, os efeitos foram muito menores.
Recentemente, duas organizações no Brasil — a Fundação Bracell e o Insper — ministraram um curso para formuladores de políticas públicas sobre implementação eficaz de políticas educacionais. Nesse contexto, refletimos sobre o que impulsiona uma boa implementação.
Por que as políticas fracassam na implementação?
Há muitos motivos pelos quais políticas educacionais falham (Figura 1).
Figura 1. Seis desafios na implementação de políticas educacionais
Lacuna entre o desenho e a implementação: Muitas vezes, as políticas recebem muita atenção na fase de desenho, mas muito menos na implementação. Em alguns casos, elementos-chave — como treinamento e apoio aos implementadores — são reduzidos por falta de recursos. Intervenções mais simples, com menos componentes, podem ser mais fáceis de implementar em larga escala.
Resistência à mudança: Atores envolvidos, como professores, diretores e formuladores de políticas, podem resistir às reformas por interesses conflitantes, falta de compreensão ou medo do novo. No caso de políticas para professores, a resistência pode surgir mesmo quando as mudanças seriam benéficas, por medo de que aceitar uma reforma abra caminho para outras, indesejadas.
Recursos e capacidade: A falta de recursos financeiros e humanos, conhecimento limitado e apoio institucional inconsistente podem dificultar a implementação. Uma vez, Dave (um dos autores deste artigo) conversou com uma gestora pública em um país de renda média-baixa, que disse: “Parem de nos contar o que funcionou em Singapura!” — os recursos e a capacidade eram simplesmente muito diferentes.
Reações políticas: Reformas podem enfrentar forte oposição ou mudanças de apoio político, o que pode atrasar ou até reverter sua implementação.
O contexto importa: O sucesso de uma política depende muito do contexto. Políticas eficazes em um território podem não ter o mesmo impacto em outro, devido a diferenças nas condições locais, recursos e necessidades da população. Mas isso não significa que não podemos aprender com sucessos e fracassos alheios — quer dizer apenas que devemos ser inteligentes e humildes ao interpretar e adaptar lições.
Viés de seleção nos locais-piloto: Sistemas costumam testar intervenções em locais onde os efeitos tendem a ser mais fortes. Por exemplo, um programa de bolsas para evitar evasão escolar pode funcionar bem em escolas com altas taxas de evasão. Mas, ao ser ampliado para escolas com menor evasão, os efeitos podem ser significativamente menores.
Como os sistemas educacionais podem ajudar as políticas a darem certo?
Se esses são os motivos para as falhas, como evitá-los? Um modelo elaborado pela OCDE apresenta nove chaves para o sucesso, organizadas em três eixos: visão, engajamento e adaptação (Figura 2). A seguir, discutimos alguns desses pontos com mais detalhes.
Figura 2. Um modelo para implementação bem-sucedida de políticas educacionais
Estabeleça uma visão clara: Uma política bem implementada deve se basear em um entendimento compartilhado entre os atores. O município de Sobral, no Brasil — e depois o estado todo do Ceará — passou por transformações notáveis na qualidade da educação. Um dos fatores-chave foi um objetivo simples e claro: garantir a alfabetização de todos os alunos até o final do 2º ano do Ensino Fundamental. Esse objetivo era fácil de comunicar e alinhava pessoas e esforços: “Todos os alunos alfabetizados até o 2º ano.”
Use ferramentas baseadas em evidências: As ferramentas usadas para alcançar os objetivos devem ser apoiadas por pesquisas. Na Nova Zelândia, o Ministério da Educação conduz o programa Best Evidence Synthesis, compilando evidências sobre o que funciona. No Reino Unido, a Education Endowment Foundation faz esse trabalho fora do governo, produzindo e usando evidências para promover mudanças.
Segundo eixo: Engajamento
Melhore a comunicação: A comunicação eficaz é um elemento-chave que promove acordo, apoio público e sentimento de pertencimento à política. Deve ser um processo de mão dupla, transmitindo mensagens-chave e ouvindo o retorno dos envolvidos. Em Sobral, o prefeito usava o rádio para discutir a necessidade de mudanças. No Rio de Janeiro, o secretário de Educação dialogava diariamente com professores nas redes sociais, durante a implementação de uma reforma ambiciosa.
Terceiro eixo: Adaptação
Considere as instituições: A estrutura institucional — estilo de liderança, princípios e níveis de confiança entre os atores — influencia comportamentos e decisões. Alguns países usam “laboratórios de políticas” para reunir atores em torno de um objetivo comum. Na Tanzânia, em resposta à queda no desempenho em exames de conclusão, foi lançado o programa Big Results Now, inspirado no Reino Unido. O programa começou com um “laboratório” de seis semanas para definir áreas prioritárias, criar planos de ação e atribuir responsabilidades.
Fortaleça a capacidade de implementação: Os formuladores e executores de políticas precisam ter as habilidades e os conhecimentos necessários. Um exemplo vem do Japão com o método lesson study, no qual professores aprimoram métodos colaborativamente. Professores experientes orientam os novatos, líderes escolares promovem reuniões sobre práticas de ensino e há grupos de estudo em toda a rede. Um professor ministra a aula, os outros observam, e depois todos discutem melhorias.
Conclusão
Guy Kawasaki escreveu que“Ideias são fáceis. Implementação é difícil”. Profissionais da educação vivem isso todos os dias. Mas se evitarmos os erros comuns e seguirmos os princípios do sucesso, é possível implementar boas políticas educacionais de forma eficaz — com grandes benefícios para crianças e jovens ao redor do mundo.
Colocar as políticas educacionais corretas em prática já é difícil o bastante. Mas, na maioria das vezes, é na implementação que elas fracassam. Vamos compartilhar dois achados marcantes. Confira o artigo de Carolina Rivas e David Evans!
Objetivo é apoiar lideranças educacionais na aplicação prática de políticas públicas educacionais. A formação é voltada a gestores públicos da área da educação e teve seu primeiro módulo realizado entre os dias 20 e 22, na sede do Insper, em São Paulo.